domingo, 11 de abril de 2010

Visita ao Novo Edifício - Revisão 1



Convidados pela RD e pelo CA XI de Agosto, membros do Movimento Pró-Acervo das Arcadas, além de um representante do Paradigma, finalmente tiveram acesso ao interior do Anexo IV. 

A visita foi realizada às 15h00 desta quarta-feira, 07/04/2010.
 
[Estamos analisando todas as informações que pudemos colher durante a visita e, tão logo seja possível, publicaremos aqui no nosso Blog. Também estamos com alguma dificuldade para juntar todo o material fotográfico e selecionar o material realmente pertinente para publicação. Em breve, publicaremos.]

Aproveitaremos o relatório originalmente publicado em 08/04/2010 e, finalmente, incluir fotos para ilustrá-lo. A demora se deu porque, antes de publicar estas tristes fotos, priorizamos a elaboração de propostas e sugestões, já enviadas à Comissão de Biblioteca e aos Coletivos Acadêmicos (RD, CA e partidos). Foram incluídos novos comentários e sugestões.

Eis aspectos e fatos relevantes aos quais podemos dar publicidade imediata:

1. Obviamente, os andares recém-liberados ainda não estão em condições de uso. Há muita sujeira, mas para isto a solução é rápida: basta limpar. Durante nossa visita, não nos impressionava a sujeira superficial dos andares recém-liberados, mas problemas com potencial para expor a riscos o Acervo e que pudessem demandar muito tempo em reformas.

Felizmente, nenhuma caixa com livros foi levada para tais andares, que estão imundos. Como já afirmamos, para sujeira há solução. E até rápida.



Infelizmente, no sétimo pavimento [1], encontramos várias infiltrações, com partes do forro já destruídas (ou inexistentes) e goteiras, muitas goteiras. Também para isto há solução e, embora provavelmente não seja muito complexa, não é rápida. Isto terá implicações na manobra dos volumes empilhados (e bota empilhado nisso...) que deverão ser consideradas quando da elaboração de um plano emergencial para imediata disponibilização do Acervo.



Não visitamos os andares superiores (8º e 9º), mas é de se lembrar que, se há goteiras no teto do 7º pavimento [1], estas são indício de problemas no piso do pavimento imediatamente superior. 

Propomos que o Pró-Acervo receba autorização para avaliar o local, com mais calma e vagar, sem o incômodo de ter de responder a perguntas e tentativas de intimidação. Desta maneira talvez possamos oferecer sugestões concretas, lastreados por mais dados.

2. Somente limpeza não será suficiente para permitir o uso dos espaços como local de pesquisa. Quando muito, poderão ser aproveitadas para desempilhar as caixas que guardam (ou deveriam guardar) os livros do Acervo. 

Além do aparentemente grave problema de infiltrações, o que já torna o 7º pavimento [1]  temporariamente incompatível com a guarda de livros, será necessário incluir no plano emergencial o tempo destinado a reparos na alvenaria, pintura geral, reforma de caixilhos e instalação de vidros (pois são muitos os quebrados). 



Além disto, itens básicos de infraestrutura de uma biblioteca estão ausentes, como elétrica (cujas instalações atuais necessitam de avaliação criteriosa), teleinformática, climatização. 




Não há um sanitário acessível sequer. Mal há sanitários para os servidores da Biblioteca. Importante ressaltar que o termo "sanitário acessível" designa aqueles adaptados para utilização por pessoas com deficiência. São sanitários maiores que os convencionais, com acessórios específicos, como barras de transferência; e devem seguir especificações bastante rigorosas, previstas na Norma Técnica Brasileira ABNT NBR 9050:2004. Entre as várias soluções possíveis, a norma traz o exemplo abaixo:

 

 De acordo com o Dec. Fed. nº 5.296/2004, os edifícios de uso público devem prever, pelo menos, um sanitário acessível para pessoas com deficiência por andar. Sugerimos que os sanitários acessíveis não sejam ignorados no projeto a ser elaborado pela Comissão de Biblioteca instituída pela ilustre Diretoria da Academia, até porque devem ser instalados por determinação legal e, como todos os requisitos de Acessibilidade, são instrumentos de inclusão e justiça social. São objeto de especial atenção de eficientes e atuantes Organizações Civis, além do Ministério Público Estadual e Federal.



3. Quanto aos livros, assunto que especialmente nos interessa, visitamos o andar em que as caixas estão "depositadas". O que podemos lhes adiantar é que a foto que abre nosso blog, que faz parte do Inquérito Civil Público do MPF, não traduz exatamente o que observamos pessoalmente. In loco, a situação realmente nos deixou impressionados, muito mal impressionados. Aliás, a caixa rasgada, retratada na abertura do Blog, continua lá. Mas há caixas em pior estado.



Foi realmente entristecedor presenciar tal cenário. 



Impossível não sentir indignação e imaginar porque um profissional teria coordenado de tal maneira as equipes que efetuaram o transporte das caixas e o "empilhamento", se é que podemos assim chamar o que presenciamos.



Observamos centenas de caixas com livros, justapostas de forma pouco organizada, com evidente desequilíbrio das pilhas, tombando sobre as próximas. Algumas caixas chegaram a desmontar como consequência do excesso de peso, ou pela forma como foram manipuladas durante o traslado ou ainda por outro motivo que não conhecemos. Os livros de algumas caixas estão espalhados e expostos.


Se é possível enxergar uma face positiva em tal situação, talvez seja possível afirmar que a estrutura de sustentação da laje está passando pelo que os técnicos das edificações chamam de teste de carga, tamanha é a concentração e volume de caixas de livros no 5º andar [1].  Faltam apenas os aparelhos de medição. A estrutura do edifício tem demonstrado ser bastante robusta, o que nada garante sem a avaliação de profissional qualificado.


Avaliação esta que o Movimento Pró-Acervo das Arcadas havia solicitado ao C.A. em nossa reunião aberta e  que já está sendo providenciada, a cargo de equipe técnica da Coesf (Coordenadoria do Espaço Físico da USP), segundo nos informou o Prof. Magalhães (nós o encontramos nos corredores das Arcadas, informamos que estivemos visitando o local e este se mostrou bastante atencioso na breve conversa estebelecida).

O Pró-Acervo também solicitou a apresentação de AVCB (Auto de Vistoria do Corpo de Bombeiros) que, segundo relatam membros do C.A. XI de Agosto, também está em vias de ser obtido pela FDUSP. Tal vistoria se faz necessária pois a grande concentração de material inflamável, característica de bibliotecas, exige que sejam adequadamente protegidas. Tal precaução oferece segurança aos funcionários, ao público visitante e ao patrimônio. 

Infelizmente, graves falhas continuam ocorrendo. Como podemos observar pela foto abaixo, os extintores do corredor do 2º pavimento, onde já está funcionando a BCI (Biblioteca Central), estão vencidos desde julho de 2008, portanto há quase 2 anos.
  Estes extintores, ao que nos pareceu, pertenciam ao antigo proprietário do imóvel desapropriado ou locatário, pois alguns deles ostentam o nome "Sudameris". Felizmente algum dos cuidadosos funcionários levou um extintor ao 5º pavimento[1], onde estão as "pilhas" de caixas com livros. Este extintor, como demonstra a foto abaixo, ostenta a inscrição "USP DIREITO".

Válida e louvável a iniciativa, mas com eficácia extremamente limitada. O extintor de água pressurizada, além de mal localizado, só terá utilidade se eventual incêndio for detectado em seu estágio inicial, tamanho o volume de papel concentrado num mesmo compartimento. Sendo um material de fácil combustão, uma chama inicial propagar-se-á com grande velocidade, tornando o incêndio incontrolável em questão de minutos.

O edifício dispõe de hidrantes, mas somente o AVCB poderá atestar que o sistema hidráulico possui a pressurização adequada e se todas as mangueiras estão em boas condições de uso. Além disso, a utilização do sistema de hidrantes depende de um mínimo de treinamento, motivo pelo qual a criação e manutenção de uma Brigada de Incêndio é necessária.

Demonstrando não ser infundada nossa preocupação, trazemos a imagem a seguir, na qual observamos caixas de papelão empilhadas junto ao quadro de disjuntores do 5º pavimento.[1] Uma delas parece estar apoiada sobre a porta aberta do quadro elétrico.

Só após a análise de nossas fotografias é que percebemos a arriscada situação, pois a fotografia procurava demonstrar o estado das caixas e, ao fundo, captamos o quadro de disjuntores. Cópia desta mensagem foi enviada ao nosso representante discente na Comissão de Biblioteca, solicitando imediatas providências. Não sabemos se o quadro elétrico está em funcionamento, mas a cautela exige verificação imediata.

Voltando à avaliação estrutural em andamento, pudemos constatar que ela está sendo realizada, pois duas das vigas foram abertas (quebrando-se uma pequena parte do concreto) para que a armadura de aço fique à mostra. É um procedimento normal, embora já existam métodos menos invasivos, com equipamentos de ultrassonografia.


Infelizmente, ao proceder à abertura da viga, o profissional responsável aparentemente subiu sobre as pilhas de caixas e ainda espalhou pó sobre o Acervo, pois restaram algumas pegadas denunciando o aparente lapso.


Como desgraça pouca é bobagem, uma caixa "dilacerada", com todos os livros espalhados, estava imediatamente ao lado da caixa com as pegadas. Os livros não foram protegidos, como indica o depósito de poeira branca sobre eles.



Um pouco de cuidado, justamente em tão conturbado momento, mal algum faria. Sugerimos que todos os visitantes sejam orientados sobre o enorme valor, material e imaterial, que estas caixas guardam. Não é o caso de impedir que todos os profissionais envolvidos com a busca de soluções tenham acesso ao local. Trata-se de, por prudência e consideração, oferecer-lhes orientações sobre como proceder e que cuidados tomar ao operar no local, para não piorar situação já tão delicada.

Muitas caixas trazem a inscrição: "CUIDADO FRÁGIL" e setas indicando a face da caixa que deverá estar voltada para cima (muito embora algumas caixas "insistam em permanecer" apontando para o chão).



O Movimento Pró-Acervo das Arcadas não tem como objetivo oferecer obstáculos à busca por soluções do problema que se tornou a repentina mudança de endereço. Pelo contrário, rápida solução é o que mais nos interessa e até prepararemos a apresentação de sugestões para problemas pontuais. Com este objetivo apresentamos os "quesitos" encaminhados à Diretoria, através do Centro Acadêmico XI de Agosto.

No entanto, não deixaremos de lado o espírito crítico e de dar publicidade a todos fatos relevantes que observarmos, para que os nobres colegas Acadêmicos possam fazer seu próprio julgamento.


Manifestamos profunda tristeza e indignação com o estado em que se encontra a parte visitada do Acervo das Arcadas. 

É certo que novas salas são necessárias (embora caiba a ressalva de que a grade curricular que criou a demanda por mais espaço não seja recente). Também é certo que a proposta de uma biblioteca mais moderna tem o condão de oferecer não apenas aos Acadêmicos, como para toda a sociedade, melhores condições de pesquisa e preservação.

Mas no plano fático, ao menos pelo que pudemos observar, a proposta ideal não se verifica. Seja por defeitos no planejamento, seja por defeitos na operacionalização da mudança, seja por outros motivos quais forem, fato é que medidas urgentes para preservação do Acervo se fazem necessárias para sanar as consequências de desastrada operação de transporte e armazenamento. 


A proposta de desocupar parcialmente o 5º pavimento[1] para "abrir espaço" para a organização de algumas Departamentais, levando parte das caixas para outro andar nos parece precária e potencialmente demorada. 

Como alguns dos cuidados necessários, norteados pela prudência e pela diligência, que entendemos merecer a Coisa Pública, citamos que a urgente disponibilização do Acervo também deve orientar-se pela garantia de que, entre outros

i) o espaço para onde parte do acervo será transferido temporariamente não oferecerá riscos aos livros; 

ii) a nova operação de transporte não somará maiores prejuízos àqueles já constatados;

iii) as imprescindíveis obras de reforma não sejam realizadas em quaisquer ambientes onde estejam os livros, principalmente se não estiverem perfeitamente protegidos contra pó, umidade e agentes agressivos.
      Enfim, a garantia de que, ao menos, não voltem a ocorrer os mesmos erros que submeteram nosso valioso Acervo a riscos e possíveis danos desnecessários.

      Através de comunicado, a Ilustre Diretoria da FDUSP tornou pública sua decisão de instituir uma Comissão de Biblioteca, da qual é presidente o mui admirado professor Virgílio Afonso da Silva. A iniciativa parece-nos positiva, desde que não protelatória. Seu caráter meramente consultivo não garante que os trabalhos e projetos desenvolvidos pela Comissão serão implementados. O representante discente da graduação, Renan Fernandes (Turma 182-11), demonstrou-se engajado na busca de soluções e estabeleceu canal de contato direto com o Pró-Acervo, pelo qual poderemos monitorar os progressos, oferecer sugestões e, sempre que necessário, manifestar nossas críticas e reclamações.


      Em todo caso, não nos restringiremos ao canal estabelecido. Todos os meios lícitos para atingir nossos objetivos permanecem em nosso plano de ação.

      Manifestamo-nos em apoio a toda iniciativa lícita em prol do Acervo e pelo ressarcimento de eventuais prejuízos que, comprovadamente, este tenha sofrido; e, neste caso, também apoiaremos a apuração dos agentes responsáveis, internos e/ou externos à FDUSP, realizada pelo órgão competente.

      Finalmente e diante do que até o momento pudemos verificar e documentar, parece-nos legítima a profunda indignação externada na célebre noite de 25 de Março, nas históricas Arcadas.  Repudiamos veemente a repressão à liberdade de expressão.

      Movimento Pró-Acervo das Arcadas.
      Movimento independente de Acadêmicos da T.182-21



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      [1] Há alguma dúvida sobre o número correto dos pavimentos.