sexta-feira, 8 de abril de 2011

Entrevista do Movimento Pró-Acervo ao grupo Resgate, da Faculdade de Direito da USP


Como surgiu a ideia de organizar o grupo?

Antes de tudo, é necessário frisar que o Movimento Pró-Acervo das Arcadas não foi o primeiro e certamente também não foi o mais importante grupo a dar atenção à questão das bibliotecas. Acreditamos que, se nossas ações tiveram alguma relevância, ela se dilui frente à magnitude atingida pela ação concertada dos Franciscanos. Até um determinado momento, estávamos inertes, quando, por reação a um veemente alerta de um notável Franciscano, finalmente nos movemos. Não estávamos de fato organizados, simplesmente reagimos ao choque de realidade. Talvez sorte e acaso tenham garantido ao Pró-Acervo a organização mínima necessária para estabelecer objetivos e traçar um singelo plano de ação.

Quais eram os objetivos do Movimento Pró-Acervo?

O grupo não era ambicioso quanto aos seus objetivos, uma vez que metas de longo prazo exigiriam grupos com maior articulação. Pareceu-nos mais eficaz tentar reunir os coletivos já existentes em torno de um objetivo comum, superando eventuais obstáculos ideológicos. Elegemos, então, três metas, mesmo sob o risco de sermos criticados:
1) a proteção de nosso acervo, afastando-o imediatamente de situação de risco e de danos irreversíveis;
2) a disponibilização do acervo, preocupando-nos especialmente com os pesquisadores e com os colegas que elaboravam suas teses de láurea;
3) a livre manifestação de ideias e opiniões – afinal, era isso que estávamos colocando em prática e percebemos algumas "iniciativas negativas", que precisavam ser enfrentadas.

Vocês consideram que esses objetivos foram cumpridos?

Como Franciscanos, certamente não estamos satisfeitos com os resultados. No entanto, é preciso reconhecer que aquele risco imediato cessou e, por essa limitada perspectiva, seria possível dizer que o Pró-Acervo atingiu seus objetivos. Mas há que se comemorar a histórica oportunidade experimentada por toda uma geração de Franciscanos, que se uniram em prol do presente e do futuro da Academia, reforçando valores há muito construídos. São momentos de união, como aqueles que vivenciamos, que elevam o espírito do Franciscano para muito além da mediocridade.

Boa parte do acervo retornou ao prédio histórico e hoje a Biblioteca está dividida. Vocês acreditam que as bibliotecas estão em boas condições? Quais são os grandes desafios que deverão ser enfrentados para que a Biblioteca volte a ter condições adequadas, tanto de armazenamento dos livros quanto de consulta? O que devemos cobrar da Diretoria e da Comissão de Bibliotecas?

Correndo o risco de incorrer em inexatidões e simplificações, responderemos a estas questões tentando mirar em sua essência. As medidas paliativas implementadas reduziram os riscos irreparáveis e iminentes a que o Acervo se submetia. Por sua natureza provisória, decerto tais medidas não supriram as necessidades e falhas apontadas no início da mobilização e, consequentemente, subsiste a necessidade de respostas concretas da Instituição. São inúmeros os problemas identificados, que vão desde o cumprimento da legislação relativa à segurança e ao acesso de pessoas com deficiência, até a elaboração de ampla discussão de um projeto que vá além de um "remendo". A mudança para um novo edifício não deve ser apenas uma resposta à falta de espaço para salas de aula, mas a oportunidade de trazer às nossas bibliotecas as melhorias de infraestrutura e tecnologia que as preparariam para o futuro. Por fim, é importante observar que se as condições ainda não são as ideais, há de se ressaltar que, não fosse a ação dos funcionários das bibliotecas, com certeza a situação seria muito pior: houve a instalação de mesas na BCI e na sala de estudos do prédio na Senador Feijó, o serviço de reserva de livros on-line tem sido eficaz e a unificação e a modernização do sistema de empréstimo de livros está funcionando.

O Movimento Pró-Acervo não é ligado a nenhum grupo político da Faculdade. Qual é o papel dos alunos nesse processo? Como fazer as cobranças necessárias? Como incluir os calouros nessa discussão, já que eles não participaram das movimentações de maio?

Houve consenso de que o Pró-Acervo deveria buscar a neutralidade para manter nossa agenda transparente, evitando a natural polarização da política na Faculdade. Como alunos e cidadãos, cada um de nós tem suas convicções e simpatias políticas, exercidas livremente, sem prejuízo da persecução dos objetivos eleitos. Afinal, não seria o fato de utilizarmos camisetas de cores diferentes que nos afastaria de termos interesses em comum. Talvez o caminho para incluir os Novos Franciscanos nessa e noutras discussões relevantes para o nosso futuro seja identificar o que vem a ser o "verdadeiro espírito Franciscano". Quem sabe seja possível incluir na agenda novas formas de iniciar os calouros no porquê de nos orgulharmos tanto de sermos parte desta Academia, abraçando todas as ideologias, doutrinas e partidos.

O que significou para o grupo receber o prêmio Spencer Vampré?

Inicialmente houve alguma hesitação em recebê-lo. Temia-se que a premiação injustiçasse os demais grupos, que muito mais importância tiveram nas manifestações. Também pesava o fato de que, por seu caráter espontâneo, em nenhum momento se buscou notoriedade ou publicidade aos membros do Pró-Acervo. Por fim, entendemos que a indicação ao prêmio reconhecia o trabalho de todos os Acadêmicos, não apenas deste ou daquele indivíduo. Esperamos que a honraria, que recebemos com muito orgulho, possa ser assim entendida pela Comunidade Franciscana.

Vocês pretendem continuar atuando em 20XI?

Como movimento ou coletivo, o Pró-Acervo esgotou-se em seus objetivos. Nossas últimas visitas às bibliotecas mostraram-nos que houve progressos, infelizmente muito aquém do que desejávamos. Novas preocupações estão surgindo, não sabemos se há uma luz no fim do túnel ou se o que se aproxima nos derrubará. Precisamos reconhecer o trabalho de servidores dedicados que se preocupam com o acervo, mas é igualmente necessário assinalar que lhes faltam meios, que precisam ser providos pela Instituição. Contudo, resta reforçada a convicção de que, quando são nobres e legítimos os valores, unem-se as vozes e mais uma vez se revelam os verdadeiros Franciscanos – que imaginávamos pertencer ao passado, mas que percebemos presentes em cada um de nós, participemos destes movimentos ou não