domingo, 27 de junho de 2010

Acervo da ditadura mofa sob goteiras em Brasília


FILIPE COUTINHO

LUCAS FERRAZ
DE BRASÍLIA



Enquanto o governo federal compra briga com os militares para desvendar informações sobre a ditadura (1964-85), o Arquivo Nacional, em Brasília, guarda documentos sob goteiras e dentro de sacos plásticos, com risco iminente de incêndio.

São quase 35 milhões de folhas, armazenadas em condições precárias, que narram a censura, a perseguição a militantes de esquerda e a ação das Forças Armadas em um dos momentos mais obscuros da história do país.

Toda essa papelada ainda aguarda triagem dos arquivistas para a definitiva incorporação ao acervo.

Os arquivos estão desde 1999 no prédio da Imprensa Nacional, que até hoje não foi adaptado para armazenar documentos históricos: não há saídas de emergência, o teto tem infiltrações e há fios expostos nos corredores. Alan Marques/Folhapress

Alguns arquivos recebem lonas de plástico para se proteger dos vazamentos do teto e das chuvas


O Arquivo Nacional em Brasília, uma espécie de filial do Rio de Janeiro, que concentra a maior parte do material, trabalha no limite de sua capacidade. Segundo a própria direção, "não há espaço para mais nada".

Os documentos guardados sob lonas e expostos a goteiras e infiltrações representam um terço do acervo do órgão na capital do país. Se fosse empilhada, a papelada chegaria a 5 km --o equivalente a um prédio de 1.500 andares.

No total, o arquivo de Brasília guarda 15 km de material, ou 105 milhões de páginas -no Rio, são mais de 420 milhões.

Com o tempo, muitos documentos mofam e são tomados por pragas, e aí necessitam de uma higienização antes de voltar às estantes. Boa parte desse material em quarentena está armazenado em sacos de lixo.

A Folha teve acesso a todas as dependências do Arquivo Nacional e flagrou mapas que ainda seriam analisados jogados num canto do galpão e dezenas de caixas com documentos com sinais de que foram molhadas.

No mesmo local em que estão as 35 milhões de folhas históricas há banheiros e uma copa para os funcionários, situação que é considerada irregular pela própria coordenação da instituição, já que a proximidade com banheiros e cozinha pode causar infiltrações.

Riscos
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O prédio do Arquivo Nacional foi doado em definitivo ao órgão em 2008 --pertencia antes à Imprensa Nacional. Mesmo com a estrutura carente, a instituição contou nos dois últimos anos com orçamento disponível de R$ 117 milhões.

A principal preocupação do Arquivo, no entanto, não é com o armazenamento dos documentos da ditadura. Cercado por janelas com grade e com fios expostos pelos corredores, o risco de incêndio no local é iminente.

A Folha teve acesso a laudo do Corpo de Bombeiros que obriga o órgão a fazer uma série de adaptações para evitar incêndios, sob pena de interdição do prédio.

O Corpo de Bombeiros deu 30 dias para que fossem criados sistemas de iluminação, alarme, sinalização, chuveiro automático e extintores. Segundo os bombeiros, o prédio nem sequer tem saída de emergência para a segurança dos 55 funcionários.

"[O Arquivo Nacional deve] instalar saídas de emergências e adequar a edificação para garantir o abandono seguro de toda a população", diz trecho do laudo.

O prazo dado pelos Bombeiros se encerra nesta semana, mas o Arquivo Nacional já trabalha para conseguir mais tempo.


Fonte: Folha de S. Paulo


COMENTÁRIO: realmente, o reitor possui razão quanto ao que disse em seu texto na mesma Folha (Tendências e debates - 10/06/10 - "Mecenato e universidade"): O modo, emocional e rocambolesco, como foi conduzida a experiência relativa ao projeto de modernização da Faculdade de Direito do Largo de São Francisco certamente não contribuiu para a referida conscientização.


Rocambolesco para as nossas bibliotecas foi pouco!